Apaixonando-se por Beatriz, filha de Folco Portinari, um nobre da cidade de Florença na Itália, Dante sente o amor sublime e platônico, cita as palavras de Homero e diz que Beatriz “não parecia filha de gente mortal, mas de um deus”.
A narrativa começa pelo primeiro encontro de Dante com a amada, quando ambos tinham nove anos (o numero nove encontra-se tão favorável na narrativa devido ao seu caráter milagroso segundo a verdade crista e a Ptolomeu) e Dante o descreve no seguinte fragmento: “dali em diante, o Amor tomou conta da minha alma, que logo se dispôs a desposá-lo: em relação a mim, foi ganhando tanta firmeza que poderia, pela virtude que lhe transmitia a minha imaginação, que nada mais me restava se não atender aos seus menores desejos”. E o segundo encontro, exatamente nove anos depois, onde relata “passando por uma rua, volveu os olhos para a direção onde eu me encontrava a tremer: graças, porém, a sua gentileza inefável, que hoje é louvada na vida eterna, cumprimentou-me tão virtuosamente que, naquela saudação, julguei ver todas as expressões da santidade”.
Nessa ocasião, ele tem uma visão portentosa e alegórica, numa combinação inextricável de alegria e angústia, doçura e terror no qual vê o deus "Amor", que traz Beatriz em seus braços. O deus "Amor" também tem nas mãos o coração de Dante, dando-o a Beatriz, “já era àquela hora em que, ao leito, se recolhem todos, menos o céu antigo, com seus astros, quando me vi sujeito ao vulto de um Amor quase inimigo. Afetava alegria, ao comprimir meu coração na mão, tendo nos braços minha senhora, em panos, a dormir”. Nesta visão pode-se notar um máximo de complexidade cheio de metáforas, sendo um amor quase inimigo nesta primeira aparição.
Com ênfase, Dante cita Beatriz como virtude tão nobre capaz de mudar seus conceitos baseados na razão, dizendo “revestia-se ela de uma virtude tão nobre que jamais consenti que o Amor de mim se apossasse sem o fiel conselho da razão, naquelas coisas onde fosse conveniente ouvi-la”, ou seja, acima de tudo ela era um exemplo da santidade.
Contudo, o amor exposto em Vida Nova por Dante é um amor platônico, ele só precisava ver Beatriz. Sente por ela um amor divino e sublime, totalmente espiritual que o faça ter forças suficientes para mesmo depois da morte de sua amada, continuar vivendo e continuar amando. Não há dúvidas de que, quanto mais o amor se eleva tanto mais se aperfeiçoa, até chegar ao grande amor, ao amor único que se torna divino.
O interessante em Vida Nova em relação à figuração do amor, é que este aparece de uma forma diferente com uma “elevação” dos sentimentos, ou seja, de uma forma mais forte, pura e platônica. Sendo assim, o que difere o amor de Dante do resto das pessoas é o exagero nele contido. Há de se ressaltar, no entanto, que o deus Amor só aparece na visão do sono de Dante, e não na vida real.
Dante não vê Beatriz como uma mulher que possa ser tocada, ele a coloca como símbolo do amor divino e a exalta chamando de beautitude nobilíssima, fazendo assim, referencias à algo puro que não pode ser comparado.
“Vida Nova nos remete três pontos importantes em relação ao amor: memória, morte e segredo”
Primeiramente, ao contrario dos gregos que para perpetuar na história morriam em prol das batalhas, Dante diferenciou e nos deixou como memória sua obra. Com efeito, ele inovou.
A morte seria o caminho para a vida eterna, é representada no ligamento deste amor à morte, passando por um aumento espiritual. E por ultimo, o segredo nos lembra os trovadores das cantigas de amor que não revelavam o nome da mulher amada. Diferentemente de Dante, eles enfraqueciam por não ver a mulher. Dante não cita o nome de Beatriz, pois a considera sublime e o fato dele não vê-la, devido à morte, o torna forte, e o faz começar uma nova vida.
Por fim, o que mais impressiona na obra de Dante, do ponto de vista do poeta é a seriedade no modo de considerar o Amor, pois ele tem a concepção do amor perfeito. Para ele, o amor em si, não se resume a inteligência ou a qualquer definição física, e sim a uma espiritualidade de sentimentos que são sentidos intensamente.
No final do livro, Dante pede a Deus que sua vida dure alguns anos mais para continuar exaltando e amando Beatriz, e dizer dela o que jamais foi dito de mulher alguma.
Concluindo, as figurações de Amor em Vida Nova passam por uma progressão importante, já que, em primeira instancia o Amor causa um certo espanto, depois pressupõe uma árdua jornada para a salvação e enfim, o Amor vem renovado e equilibrado, dissolvendo-se no próprio Dante.
SILVA, Rosana de Fátima. Figurações do Amor em Vida Nova de Dante: análise critica. Mariana(MG), 2010.
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